Já imaginou o seu cérebro como um tradutor simultâneo, a trabalhar incansavelmente para descodificar e recodificar idiomas?
A cada palavra traduzida, milhares de neurónios comunicam entre si, percorrendo um labirinto de conexões neurais para encontrar as palavras exatas e o significado preciso, processando significados, evocando emoções e construindo pontes entre culturas. Mas como é que o nosso cérebro realiza esta proeza? A neurociência da tradução oferece-nos uma visão fascinante dos mecanismos cerebrais que sustentam esta habilidade fundamental da comunicação humana, revelando como o nosso cérebro processa idiomas, gera ideias criativas e nos conecta com outras culturas.
Desde que os Estudos de Tradução se estabeleceram como uma disciplina académica na década de 1970, os tradutores e investigadores têm utilizado amplamente ferramentas, conceitos e teorias de diversas áreas, como a sociologia, antropologia, psicologia e biologia, para explorar as múltiplas facetas da tradução e interpretação.
Hoje, a neurociência, que estuda o sistema nervoso, tem ganho destaque nesse campo. A sua missão é entender como os processos cerebrais influenciam a nossa perceção, ação, aprendizagem e memória, e como estes processos explicam o comportamento humano.
No âmbito da tradução, a neurociência trouxe novas descobertas. Tradicionalmente, acreditava-se que a compreensão de uma segunda língua dependia menos de pistas multimodais e envolvia um menor desenvolvimento sensório-motor em comparação com a língua materna. No entanto, estudos recentes revelaram que, ao utilizar uma segunda língua, há uma sincronização mais intensa entre as regiões frontal, central, temporal e parietal do cérebro dos interlocutores, em comparação com o uso da língua nativa.
Essa sincronização, observada especialmente durante a mudança de língua, ativa o córtex anterior e o córtex pré-frontal dorso-lateral (Blanco-Elorrieta et al., 2018). Em contextos multilingues, essa ativação é crucial, pois envolve não apenas mecanismos linguísticos, mas também processos empáticos e sociais, que são essenciais para uma comunicação, compreensão e tradução eficazes.
Assim sendo, a neurociência da tradução é um processo complexo que envolve várias funções cognitivas e redes neurais. Aqui estão alguns dos principais processos neurocientíficos envolvidos:
1. Processamento Linguístico na Neurociência da Tradução
Áreas de Broca e Wernicke:
- Área de Broca: Localizada no lobo frontal, é crucial para a produção da linguagem. Ajuda na formação de frases gramaticalmente corretas e na articulação verbal.
- Área de Wernicke: Situada no lobo temporal, é essencial para a compreensão da linguagem. Permite entender o significado das palavras e das frases.
2. Memória de Trabalho
Função Executiva:
- A memória de trabalho é responsável por manter e manipular informações temporárias. Durante a tradução, o tradutor precisa reter frases, termos e conceitos enquanto trabalha na conversão para a língua de destino.
- O córtex pré-frontal dorsolateral desempenha um papel crucial na manutenção e manipulação dessas informações.
3. Memória de Longo Prazo
Acesso ao Conhecimento Linguístico e Cultural:
- A memória de longo prazo armazena conhecimentos linguísticos e culturais que são essenciais para a tradução. Isso inclui vocabulário, expressões idiomáticas, e conhecimento sobre contextos culturais.
- As áreas envolvidas incluem o hipocampo (para a formação de novas memórias) e o córtex temporal (para a recuperação de memórias).
4. Atenção e Foco
Sistemas Atencionais:
- A tradução exige uma concentração significativa. Os sistemas atencionais ajudam os tradutores a focar-se em detalhes específicos do texto e ignorar distrações irrelevantes.
- O córtex pré-frontal e as áreas parietais são importantes para a regulação da atenção.
5. Criatividade
Geração de Soluções Inovadoras na Neurociência da Tradução:
- A tradução muitas vezes requer criatividade para encontrar equivalentes culturais e linguísticos apropriados. Isso envolve redes neurais associadas à criatividade, como o córtex pré-frontal medial.
- A rede de modo padrão (default mode network) também está envolvida em processos criativos e reflexivos.
6. Empatia e Cognição Social
Entendimento das Emoções e Intenções:
- Para traduzir efetivamente, especialmente em textos literários ou emotivos, os tradutores precisam de entender as emoções e intenções do autor original. Isso envolve a ativação de redes neurais associadas à empatia, como o córtex cingulado anterior e o córtex pré-frontal ventromedial.
- A teoria da mente, que é a capacidade de entender as intenções e crenças dos outros, também desempenha um papel essencial.
7. Processos de Feedback e Correção
- A tradução é um processo iterativo que inclui revisão e correção. As redes neurais envolvidas no monitoramento de erros e na correção incluem o córtex cingulado anterior e o córtex pré-frontal dorsolateral.
- A capacidade de autoavaliação e ajuste é essencial para garantir a precisão e a fluência da tradução.
A Importância da Neurociência para a Tradução
A neurociência na tradução oferece vários benefícios tanto para os tradutores quanto para os utilizadores dos serviços de tradução:
- Melhoria da qualidade da tradução: Ao compreender os processos cerebrais envolvidos na tradução, podemos identificar as áreas em que os tradutores podem cometer erros frequentes e desenvolver estratégias para os ultrapassar. Por exemplo, ao compreender como o cérebro processa a ambiguidade, podemos criar ferramentas para ajudar os tradutores a identificar e resolver problemas de interpretação.
Formação de tradutores mais qualificados: A neurociência pode ser utilizada para desenvolver programas de formação personalizados, que tenham em consideração as diferentes competências e estilos de aprendizagem de cada tradutor.
Novas áreas de investigação: A neurociência da tradução abre novas possibilidades de investigação, tais como o estudo da tradução em tempo real, a tradução de línguas minoritárias e a tradução para pessoas com deficiência.
Conclusão
A tradução envolve um sistema complexo de processos neurocientíficos que combinam o processamento linguístico, a memória, a atenção, a criatividade, a empatia e a revisão. Compreender estes processos pode ajudar a melhorar as práticas de tradução e a formação de tradutores, levando a traduções mais precisas e culturalmente adequadas. A neurociência da tradução é uma área interessante e que deve ser mais explorada.
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Tatiana Almeida
Quality Manager | Translator | Proofreader


